As atividades do Dia Internacional da Mulher no território Vales do Curu e Aracatiaçu ainda seguiram pela manhã do dia 9 de março. A partir das 7 horas, mulheres dos 18 municípios começaram a se concentrar na Praça da Igreja Matriz de Itapipoca para seguir em caminhada num Ato Público que teve como principal temática “DIGA NÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER“. O tema foi escolhido num momento em que os movimentos feministas a nível nacional travam essa discussão, que também é uma realidade do território.
Salete Pinto, agricultora e assentada do Assentamento Maceió e militante do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE), diz que esse é um dos temas mais necessários no momento, pois, por mais que se tenha trabalhado, a violência não vem diminuindo. Ela reitera com a necessidade de se reivindicar a Delegacia da Mulher, uma vez que as mulheres do território também não têm onde fazerem suas denúncias.
O CETRA também está nessa luta. Além da questão da igualdade de gênero ser um dos temas sempre trabalhados ao longo dos 30 anos da instituição, Eliane Rocha, que atualmente coordena os dois projetos de mulheres em execução no território, conta que várias mulheres com as quais os projetos trabalham têm histórico de violência. “São várias histórias e isso chama atenção no trabalho e nos chama também à responsabilidade de estar fazendo algo para essas mulheres, principalmente na questão da auto-estima”, explica Eliane.
Suzilene Ribeiro explica que a igualdade de gênero e uma luta das mulheres rurais, indígenas, quilombolas, enfim, do campo e da floresta. “Queremos dar visibilidade também que tem pessoas que se importam com essas mulheres, especialmente com a violência que elas sofrem e que a cada dia aumenta”, afirma a coordenadora regional de mulheres da Federação dos Trabalhadores/as da Agricultura do Estado do Ceará (FETRAECE). Ela ainda acrescenta que a participação das mulheres nos espaço políticos vem aumentando, pois quando elas vêem que tem gente tocando essa luta, se sentem mais preparadas e à vontade para ir também construir.
Quem também tem muito acordo é Adriana Soares, responsável pela pasta de gênero do Sindicato dos Servidores Públicos de Itapipoca (SINDSEP). Ela lembra que o próprio sindicato foi formado por mulheres e hoje tem uma maioria de mulheres. Além disso, explica, elas estão lutando pela paridade dentro das centrais: “não queremos o local dos outros, queremos o nosso”.
E como os povos do semiárido são vários, as mulheres também são vítimas de diferentes violências. Para Erbene Rosa, liderança Tremembé da comunidade São José e Buriti, no caso das mulheres indígenas, a violência se junta ao preconceito étnico. Ela conta que há casos de jovens mulheres agredidas só pelo fato de serem indígenas e que essas mulheres sofrem mais violência fora de casa, pois, apesar do reconhecimento da terra, o povo ainda não é valorizado. Ao falar sobre a situação na comunidade, a conversa é um pouco diferente: “para nossa glória, as principais lideranças são mulheres e nós guiamos os homens – eles não saem, ficam mais na agricultura”. Ainda assim, não é o ideal, existem casos de agressão na comunidade e algumas mulheres ainda não se sentem a vontade para participar.
Após percorrer algumas ruas de Itapipoca, as mais de 500 mulheres se concentraram na AABB, aonde a atividade foi finalizada com uma palestra sobre violência contra a mulher com a participação de Elisabeth Ferreira, do Fórum Cearense de Mulheres. Embora a violência esteja em todos os lugares, ela explica que as mulheres rurais têm mais dificuldade de denunciar e um desses fatores é a ausência de equipamentos. “Além disso, como as casas são mais afastadas, as pessoas não ficam sabendo e como têm menos organizações sociais preocupadas se cria um contexto de aparente não-violência”. Beth acrescenta a questão da propriedade, que geralmente são dos homens, o que dá às mulheres mais dificuldade de ter autonomia para romper com a situação de violência. Ainda sobre as dificuldades, ela aponta o machismo entranhado nas próprias mulheres, incentivado por estruturas sociais como a família e a religião, que atua na manutenção da violência e da submissão feminina.
Existem, porém, lugares onde essa estrutura já está sendo rompida. A Rede de Agricultores/as Agroecológicos/as do território é um exemplo. Embora a coordenadora da Rede, Maria José Alves (Zeza), diga que a organização ainda tem que dar mais peso à questão da mulher, ela acrescenta que as agricultoras estão se destacando, saindo, produzindo, participando da feira, “os maridos é que ajudam”. Isso é importante na conquista dessa autonomia citada pela Beth, pois, como explica Zeza, “ao produzir renda, as mulheres melhoram sua condição financeira e vão ficando mais independentes, se alguém se separar do marido tem como se manter. E a educação em casa, com os filhos, também vai mudando”.
O processo é lento e as mudanças se dão aos poucos, mas talvez os filhos dessas mulheres guerreiras de hoje já estejam atuando numa sociedade com menos desigualdade de gênero e mais justiça social.
Se faça justiça as Palavras de Nazaré Flor: “Essa luta não é fácil, mas tem que acontecer. A mulher organizada tem que chegar ao poder”.
Fonte: www.cetra.org.br
Do Blog: O STTR de Itapajé apóia esta luta e em prova disso esteve presente neste evento e levou um grupo com 29 pessoas, sendo 23 mulheres e 06 homens, mostrando que os homens do movimento sindical também dizem NÃO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.